SA

madrugada
estico o braço pra buscar o cigarro
derrubo o copo da cabeceira
o chão molhado, quatro da manhã
uma hora olhando pro teto
fumar no meio da noite
tem ajudado a náusea
não sei porque mas
tenho acordado suado
as dores que descem da nuca
percorrem até a cintura
me incomodam apenas o suficiente
pra eu não me acostumar. 
pisco, cinco e meia
o atraso me levanta com pressa
maldito relógio chinês
maldita China
o piso de porcelana
não absorveu a água
eu caio. 
bato a cabeça na cama 
e o sangue vermelho
jorra
todo o meu sofrimento.
ali parado
navego nas minhas memórias
e sou capitão do barco
daquela poça escarlate
como eu vim parar aqui?
eu me pergunto
eu queria ser alguma coisa
e agora eu sou
um pouco melhor que o
grampeador
não muito
eu tenho uma função
eu sento atrás de uma mesa
em uma sala com outras pessoas
e coisas
e faço algo que eu não entendo direito
nessa grande linha de produção
chamada
sociedade.
eu odeio a China
sério
eu odeio a China por
construir cidades fantasmas
pra mover a economia
e fico pensando
a que custo? 
cidades não brotam do chão
cidades são feitas
por homens de botas
sem tempo pra suas familias
por estarem construindo
cidades fantasmas
fantasmas, não?
mas, afinal
não é isso que é toda essa história
chamada
sociedade?
eles inventam uma função
pra você que quer
se adequar
se envolver
e fingem que você é
mais importante que
o furador de papel
mas na realidade
você 
não é.
enquanto você não
cria nada
não ama, não chora, não sente
nessas oito horas do seu dia
onde você
aperta botões
você é uma engrenagem
que faz girar a máquina
que nós criamos
para evitar
que nos matemos
você é escravo
do funcionamento
da nossa própria criação
para nos entreter
nos embriagar
e, bom
o tempo passar.
você é o peso
com a função de
segurar papel
nessa repartição
que eles nomearam 
carinhosamente de
sociedade.
Seja bem vindo. 



Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Floricultura

Chicletes

Loucura modelo