Noir
Acordar no meio da noite já tinha virado rotina. Passar a noite inteira na varanda fumando um cigarro também. Era engraçado como em certa hora da madrugada a ponta vermelha do maldito era a única luz que habitava seu campo de visão, a única coisa que podia ser vista de longe, como um vagalume em alguma noite escura de alguma floresta escura por aí. Sua esposa dormia o vigésimo sono, despreocupada dos problemas os quais o preocupavam. Afinal, de muitos deles ela nem sabia, como ele meticulosamente havia planejado que acontecesse. Era homem, e fora ensinado desde cedo que era dele o fardo, a sina de carregar o título de resolvedor de problemas, provedor da casa, pilar mais forte. Papel que ele tentava cumprir com extrema maestria. Tanta maestria que não aguentava mais acordar a noite e não fumar. "Uma válvula de escape" pensava ele, "Lícita, moralmente aceita", se justificava. Cada tragada de fumaça escaldante que adentrava seus pulmões, invadindo seus brônquios e ca