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Mostrando postagens de 2015

Manifesto do acordar

Eu dormi torcendo pro teto cair e o concreto descansar em meu travesseiro destroçando e rasgando o que estava ali finalmente calando essas vozes que assombram eu não tenho mais calma, não sei mais lidar com o problemas que os outros me dizem que eu tenho eu não sei mais viver refém deste sistema que me obriga a viver/vegetar do seu jeito. Eu não quero ser médico e nem engenheiro eu não quero mentir pra ganhar meu sustento eu não quero fingir pra comer do sem gosto eu não quero olhar e odiar os meus filhos toda vez que eu olho a saída de incêndio eu percebo que eu ando ficando sem tempo ou aceito a ganância e enfim adoeço ou decreto um fim nesse meu pesadelo um arma de fogo contra o meu pensamento vai fazer um estrago e tanto no teto pra mandar um recado aos soldados do medo vou pintar de vermelho esse amargo protesto.

Do que eu guardo

A chuva escorre com pressa Nos vidros turvos da janela Lavando os vestígios do tempo Que o vento só vinha sujar Preparo um café bem amargo Pra resistir a tempestade Ha quem diga que a chuva Invade, para lavar E que em seguida o sol Quando então reaparece Esquenta o agora novo Aquece, o que sobrar Mas logo me torno inquieto "E se também neste processo Acabar lavando as dores Que não era para levar?"

Cúmplices

Fui cúmplice de um crime assassinato a sangue frio não, não encostei no gatilho e nem fiz preparativos também não dei nenhuma ajuda no conflito corporal se é que houve, não sei não participei, afinal Mas fui cúmplice, ainda assim da tragédia anunciada da barbárie, do absurdo da atitude tomada não estranhe minha culpa ou a minha posição meu sorriso ao saber do crime foi minha contribuição.

Pique Esconde

Você se esconde, eu sei não é possível não te encontrar eu te procuro tanto por aí nas ruas aqui do bairro nas festas, debaixo da cama dentro do peito mas você se enconde eu sei não é possível não te achar nem se eu tentasse o gps nem internet nem celular ver o seu rosto mais uma vez é pedir muito é tão injusto? você se esconde mas eu espero que seja tão pensado ensaiado cada passo matemática movimento calculado pra então naquela tarde ah, nessa tarde que eu estiver por aí andando, já te esqueci pensando, eu dê de cara com você na passarela pode chover no dia, eu não me importo nem abra a boca eu sei você se esconde pra me esperar.

Entre quatro paredes vale até contar a verdade

Entre com os pés descalços Tem pouco tempo que limpei Aviso que o taco é gelado Então deslize pro quarto O mais rápido que puder Entre e não repare a bagunça As roupas jogadas no chão Os quadros pintados de sangue Móveis de cabeça pra baixo Entre aqui no meu quarto Sozinha, de olhos vendados Tateando as formas e as sombras Procurando aporte ou destino Entre aqui nesse quarto E deixe pra trás o passado Jogado na sala de estar Entre aqui no meu quarto Apague a luz que ilumina O que trazemos nos olhos O que nos habita de fato E quando chegar la no quarto Vamos dançar e cantar Vamos dormir abraçados Intimizar, intimidados com toda nossa capacidade de sermos outros lá fora e nós mesmos aqui neste quarto.

Sobre más companhias

Hoje eu acordei cansado Minha mãe ao pé da cama Rezando suas rezas baixinho Com medo de me acordar Eu abro meus olhos vermelhos Me assusto então quando a vejo Indago "do que me proteges? Dos outros?" "Não, de você mesmo".

Memórias postumas

Sobrou um pouco de nós na solidão do meu quarto um pouco do cheiro talvez um pouco do tato de deitar sem camisa no chão pra sentir o gelado de ficar em silêncio, eu sei me declaro culpado pois fui eu quem deixei de me abrir e fugi lentamente e o chão que era frio de súbito, então, ficou quente e o cheiro agora é de alguém  mas não é o da gente e o que era só nosso a nós, ficou indiferente.

Uma semana a mais

Quis dar uma passada para ver o seu estado o qual tinha me encantado tanto, há um tempo atrás fantasiei tantas noites que estar ao seu lado me faria mais feliz melhor, mais compenetrado Mas como a vida é engraçada e vive pregando peças vi você tão solitária ensaiando os mesmos passos e aquele mistério atraente que deu véu ao meu desejo caiu repentinamente e ter você em meus braços não pareceu nada demais.

Inquilinos

Hoje cedo eu acordei um tanto desabrigado me senti fora de casa até dentro do meu peito culpa dos inquilinos esses tão recém chegados mas tão mal acostumados que acham que tem direito de mudar minha mobília passar vassoura na casa tirar a poeira grudada nos cantos que eu nem mexia com medo de velhas memórias e do que encontraria acho até que estou gostando de minhas novas companhias.

Moral da história

Morreu o mendigo da rua a bairro acordou de luto não abriu mercearia nem a banco do jornal eu contei pra minha mãe que eu nem fiquei surpreso o sr, de tão enxuto uma hora sumiria. Ao cair da tardezinha o silêncio tomou conta e não é que me desponta o tal desaparecido eu corri, fui ao encontro e indaguei de prontidão o sr não tinha morrido ou é só assombração? Com um sorriso amarelo e um ar descabelado encostou, olhou pro lado pra poder me explicar "Eu tirei a minha vida por um dia e mais um pouco porque é quando a gente some que começam a notar"

Chicletes

A questão era muito simples, e aliás, nunca pareceu complicado na sua cabeça. Enquanto aquele pensamento pairava em sua consciência, o cigarro queimava os dedos em que repousava. Era o quinto seguido, último do maço daquele dia. O doutor havia mandado parar com essa mania, recomendava mascar chiclete. "Mascar chiclete" balbuciava, "que filho da puta". E então, voltava seu pensamento a questão que vinha lhe incomodando já há algumas horas: o fato de Maria ter lhe deixado sem explicação alguma. A vida tem dessas coisas. Nem tudo é feito pra se entender. E tem coisas que literalmente não são. E ele sabia disso. Mas sempre havia sido tão fácil entender Maria. Maria era um dos seres mais doces que ele já havia conhecido. Mesmo ao lado de um ser repugnante como ele, nunca levantava a voz, nunca o reprimia. Mesmo quando ele religiosamente ofendia tudo que ela, por livre e espontânea vontade, havia escolhido acreditar, ela nunca tinha deixado de olhar pra ele com a mais b

Agenda

Eu ando descuidado movido pelo imprevisto sem plano, sem planejamento cansado de medir meu tempo tentei começar uma agenda marcar todo meu compromisso já estamos no mês de Setembro e não me lembro de ter nela escrito Eu conto meus dias em pares e acordo tão desmotivado naqueles que eu não te vejo aqueles que eu durmo acordado que nem o café faz efeito prefiro manter o vazio guardar todas minhas risadas pros dias que meu compromisso é estar devagar ao seu lado.

Página do Poesia de Varanda

Olá. Não é comum eu fazer postagens aqui que não sejam poesias ou, mais recentemente, mini-contos. Mas tenho motivos para me ausentar de já tão esmerada tradição. Essa semana criei uma página no facebook em referência a esse blog. Antes de tudo, gostaria de dizer que a página não será simplesmente um espelho das poesias do blog, como era o primeiro objetivo. Decidi que uma proposta mais interessante seria compartilhar ali tudo aquilo que se relaciona com as minhas postagens daqui ou que me serve de inspiração para escrever esses, até o presente momento, quase cem textos publicados. Então, estaria, sempre que possível, atualizando a página com músicas, filmes, contos, fotografias e também outras poesias, basicamente, tudo que eu considere interessante. E claro, também, algumas das poesias que são publicadas aqui. No mais, fiquem a vontade para curtir a página, que pode ser acessada nesse link: https://www.facebook.com/poesiadevaranda Vejo vocês lá.

Centro ou outra coisa com você.

Eu quero ser o Centro quando você for orla e sair pra dançar  só pra te ver chegar na minha calçada  Eu quero ser bar quando você for rua e quiser apagar aquelas imagens que já não se escondem mais nos becos. e quando você for quarto eu quero ser sala de estar amar guardar os nossos porta sorrisos retratos.  e quando for pra longe eu quero ser casa pra você voltar chorar rezar ficar e (na) morar  comigo.

Repetição

Era dia, finalmente De te esquecer de uma vez Celebrei tão ciente Que tudo que tenho em mente É que agora, claramente Entendo o mal que me fez Encontrei outra menina Ainda um pouco inocente Faltam uns anos de vida Nada que ela não compense Com um sorriso independente Os caracóis sobre os ombros E os ombros sobre o presente Talvez eu ate me apaixone Mas aceito se for só costume Quem sabe ela não me aprume de um sorriso que há tempos Não se arruma livremente Nos sulcos das minhas bochechas em meu amarelo dos dentes O que importa nessa história É que é feita de tristezas E que, assim, seus consequentes não serão suficientes para que eu não me esqueça que hoje cedo era dia. Finalmente.

Das mágoas e desilusões

Eu ando cansado daquilo que antes não me cansava talvez enlouqueça com o sol escaldante na testa. e eu sou tão novo o que será de mim aos trinta? eu ando calado pra ver se o tempo espera. o mundo que gira diante dos raios meus o sonho tão breve que não me sustenta mais e a banca que vende aquela história vil e a culpa que tem um novo apelido deus. Eu ando cansado daquilo que antes não me cansava.

Dor

Ela disse que não vem que deve deixar pra trás que já não se importa mais com o que vai ser de mim e eu invadi o meu peito munido de adaga afiada pra rasgar o sentimento usurpar o meu sentir e se o preço for mais alto daquele que era previsto vou por um terno bonito como em anunciação comprar passagem sem volta de um trem pra além do roteiro decretar todo o meu fim rasgando meu coração..

Claridão

Um novo dia vai nascer Independente do que eu faça E não adianta nem chorar Sua despedida é tão sem direção Minhas palavras não vão te alcançar Mas talvez minha poesia vá. Enquanto o sol não aparecer Decido arrumar a casa Pintar o quarto em degradê Que vai do amor a dor da solidão Eu decidi que não vou telefonar Mas talvez hoje a noite eu faça Só pra contar que ouvi aquele som E desligar quando doer... Visto poesia até cicatrizar Canto nossos dias de contos de amor Eu não quero noite mais Quero claridão Eu não quero mais te ver Sob a sombra dos raios de sol.

Força motriz

Como máquina à vapor minha cabeça faz fumaça exausta de tanto pensar nas coisas que ainda não fiz Ignora o bem estar calma não está em pauta e se eu me mato pra acabar tem coisa nova por vir Linhas de produção nos fazem menos humanos máquinas a trabalhar privadas de toda emoção Mas diferente do concorde não sou de aço ou de cobre sou homem de carne e ódio da minha situação.

Caso sério

Vou marcar uma consulta num doutor ou analista uma coisa intimista pra que eu possa confessar meus problemas pessoais desejos tão anormais que nem freud, jung ou klein poderiam explicar Talvez eu esteja errado talvez seja apenas humano mas esses dilemas mundanos andam me enlouquecendo Mens sana in corpore sano, minha opinião pessoal quem escreveu esse absurdo não viu o mundo real.

Muita areia

Vim falar sobre desertos como o deserto que estou não de areia, nem de sal deserto emocional e nem por isso estou perdido sei o que faço, e o que digo se bem que fui coagido pelo meu próprio furor Tudo o que se diz desejo tudo que eu não entendo fez nas areais do tempo jeito de me confundir norte não é direção se a minha confusão apagou minhas pegadas me deixou parado aqui Mas encontrei nas estrelas jeito de me guiar e munido de um sextante tracei o curso que deu pra cruzar dunas e ventos evitar os contratempos andar todo esse deserto pra encontrar caminho seu.

Noventa e quatro

Eu não sei porque não choro sua ida inevitável se em dias mais serenos já chorei outras partidas Tão menores, tão distantes e tão menos importantes eu não sei porque não choro infortuna despedida eu não sei porque não choro mas eu sei que alguma tarde um dia desses, quem sabe vou sentir a sua falta vou chorar o meu silêncio na certeza que invade de saber porque eu choro esse choro de saudade.

Kairos

Não tenho medo de deus e nem do diabo não só tenho medo do tempo que eu vejo agir no meu rosto esse sim é ser cruel que cobra cada ação e cada passo em falso e assim tudo que eu faço não passa em branco nunca não da minha consciência.

Errante

De erro em erro a gente entende que com o erro a gente aprende mas errando quase sempre me tornei tão  conivente.

Leviandade

Ela levou meu sorriso Pra isso encontrei perdão Levou meus dias tranqüilos Novamente encontrei solução Levou as belezas da casa Levou a mobília Do meu coração Só não deu-se jeito no dia Que ela levou Furtivamente Minha querida Poesia.

Noir

Acordar no meio da noite já tinha virado rotina. Passar a noite inteira na varanda fumando um cigarro também. Era engraçado como em certa hora da madrugada a ponta vermelha do maldito era a única luz que habitava seu campo de visão, a única coisa que podia ser vista de longe, como um vagalume em alguma noite escura de alguma floresta escura por aí. Sua esposa dormia o vigésimo sono, despreocupada dos problemas os quais o preocupavam. Afinal, de muitos deles ela nem sabia, como ele meticulosamente havia planejado que acontecesse. Era homem, e fora ensinado desde cedo que era dele o fardo, a sina de carregar o título de resolvedor de problemas, provedor da casa, pilar mais forte. Papel que ele tentava cumprir com extrema maestria. Tanta maestria que não aguentava mais acordar a noite e não fumar. "Uma válvula de escape" pensava ele, "Lícita, moralmente aceita", se justificava. Cada tragada de fumaça escaldante que adentrava seus pulmões, invadindo seus brônquios e ca

Vocação

Enquanto eu te contava Quem era, imaginava E se eu fosse um pouco mais Pra ser aquilo que um dia Você pensou que eu era E então se apaixonou Por pouco não se enganou Sobre as virtudes que eu tinha. Não sou só decepção Pros outros, fora de casa Sou fruto de uma ilusão Criada aqui nesse meio A abraço, sem perceber Com enorme distinção Que talvez minha vocação Seja mesmo o não ser.

Aos costumes e à moral.

A noiva impura de branco puro.

Haikai da Infidelidade

Seus olhos desmentem o que mentem seus lábios.

Poesia da prevenção

Navegar contra a corrente Como disse meu amigo É perda não só de tempo Mas também de energia Se o mar para mim virasse O que já não acredito Estaria tão cansado Que até desistiria E mesmo estando em seus braços Eu enxergo os teus anseios E sinto um tom incompleto Em cada palavra nociva Por que nos tornamos reféns Desse romance discreto? Pra provar que estamos certos Ou pra ver Como seria?

Lobotomia

Quando a última chance de fugir do meu delírio se aproxima, e se debruça sobre o meu dia a dia parece que a ansiedade antes então, pequenina escolhe tomar minhas tardes de maneira violenta. Eu entendo o meu medo de encarar toda loucura que parece estar a porta espiando pelas frestas salivando o meu cansaço com os olhos a janela pressionando a fechadura para ver quando arrebenta E eu me apego ao que tenho mero fio de esperança tão descrente, minha senhora quanto um ente terminal paciente da melhora um tanto sem paciência pra prever se sobra alguma resistência emocional E caminho lentamente em direção a loucura só pra ver se no caminho recupero a consciência quem sabe nesse intento nesses últimos momentos eu encontre o que se busca nessa busca  pessoal. 

Detentor

Nunca fui proprietário Das coisas que desejei Posseiro,  em comodato Pela bondade de alguém Exerci em.nome próprio mas não tenho testemunha Pra comprovar que era fatico Os dias que te habitei E um outro então chegou Para reinvindicar Alegando que era dono Dos locais que "invadi" E eu fiquei desabitado Sem ação, insatisfeito Porque pelo seu direito Fui entao, ignorado.

Do que me move

Não me leve a mal eu te peço, por favor nem eu sei o que eu temo e essa andança, nem me lembro como é que começou Não me leve muito a sério e se achar, que mesmo assim a uma dose de veneno é possível resistir quando eu for pra bem longe me esconder das consequências leve em conta as aparências foi o medo, sim o medo que me trouxe até aqui.

Impressão

Foi ontem que olhei para cima pra ver se chovia um pouco talvez desejando com força caísse uma gota qualquer na testa, agradeceria quem sabe esfriasse a cabeça faz tempo dos dias tranquilos nem lembro daqueles amigos Eu olho a fotografia e indago se o tempo de ontem foi mesmo melhor que o presente ou se hoje o que a gente sente é escolha, e não emoção É tanto que naquele dia me lembro de estar tão pra baixo mas era, naquele retrato de todos, o mais sorridente.

Daquele que foi.

O meu corpo já não aguenta essa auto-destruição nem a forma como eu ando me portando por aí tragando cigarros velhos pulando de um vício pro outro tentando apagar esse fogo que insiste não desistir. E me  parece que os limites ficaram perdidos no tempo e em cada dose maldita decreto a minha derrota será que é hora de ir deixando de lado o tormento? Assim me abandono aqui sentindo saudades de mim.

Dia Nacional da Poesia

Em comemoração a esse dia que acho que estamos, com esse blog, qualificados a celebrar, e também pela minha recente seca na produção de novos poemas, vim publicar aqui uma lista com as minhas poesias preferidas (no meu humor de hoje) que eu ja escrevi(e explicar o porque disso), pinçadas a cada ano, pra direcionar as pessoas quando começarem a ler o blog, e também nortea-los naquilo que eu acredito que esteja bem escrito. Então, vamos lá: A falta (2011)  Na verdade, tinha  a intenção de ser um Hai Kai, como os outros que eu escrevia no meu caderno quando cursava ainda pré-vestibular, mas, acabou aumentando, e se tornando por anos a minha poesia preferida, estando hoje emoldurada na parede do meu quarto. Avenida eu (2012) Essa talvez seja a minha poesia preferida até hoje, pelo momento que fora escrita, pela metáfora, pela analogia que eu tentei reproduzir e onde acho que fui bem sucedido, pela melancolia e a esperança de uma vida melhor. Inverno(2013) A única poesia que eu já

Golpe de vista

Num golpe de vista que eu me salvei me poupei de olhar quando te vi ali de mãos tão atadas com um outro alguém tão entrelaçadas que não entendi se até o dia então era eu o motivo fresco do seu acordar e quando deitava para adormecer a matéria prima do imaginar. E agora eu  que ando por aí num andar mendigo de tanto sofrer o rosto marcado de lacrimejar o sorriso largo para esconder mas se me permito olhar para crer encontrar em outra um interessar eu me surpreendo com o meu querer só vejo você  em todo lugar..

Satisfação

Num belo dia ouvi dizer que tudo que é desejado porém, não satisfeito fica no peito guardado Que o desejo ardente quando não realizado deixa marcas, cicatrizes naqueles desavisados Sofremos de um mal congênito e vivo-o intensamente desejo só o que não tenho e o que tenho, de repente Se torna tão ordinário e logo me encontro carente até o mais novo desejo vir permear minha mente.

Nostalgia

Eu fiquei desconsolado quando tudo acabou vendo coisas de um passado que agora já passou E tudo que eu tinha amado de repente virou dor coração dilacerado e a rotina sem sabor. Os programas na televisão as matérias nos jornais o que é certo ou errado acho que eu nem ligo mais Vivo em campo minado sem saber a direção bombas caem ao meu lado só deixando solidão.

Acalento

A cidade se levanta quando a gente vai dormir e o brilho dos seus olhos ilumina o nosso quarto Eu conservo o momento o qual tento ser eterno Impeço qualquer movimento estático E no resto da manhã a história é contada pelo encontro dos meus ombros com o seu cabelo molhado Em ti encontrei aconchego esqueci o desespero pra dormir noite tranquila quando as luzes se apagam.

A falta

A falta que vive comigo é falta que aperta o peito que esquece que toma o tempo que não me perdoa no sono Pensei que ia embora logo fui no cinema comprei algumas coisas fiz o que eu queria sozinho a sós com a falta E só então eu percebi que a falta que aperta o peito não é falta de algo, nunca foi é falta de alguém.

Insular

Ah, se ela soubesse como me inquieta a mente seu sorriso displicente proibido, orgulhoso ela me traz um não embrulhado pra presente pra me ver apodrecer em cada gesto teimoso Ah, se ela soubesse que esse jeito inocente já me torna insular em um mar que não é meu Se meu barco naufragar tenho medo que ninguém nem um sinalizador vai deixar alguém saber que ali, quem se afogou tem motivos pra afundar.

Plano de fuga

Me escondi do dia-a-dia na casinha do quintal calculei, refiz os planos pra fugir do fuzuê as lembranças que me cruzam na avenida, no sinal no meu dia de trabalho não me deixam esquecer Do que fora, e já não é da bagagem tom marrom no meu pulso algemada e da chave? Já nem sei Eu não nego no semblante e penso até ser banal se meu riso é só sorriso em constante degradê E como bom arquiteto que um dia imaginei projetei a minha fuga desenhada no croqui Um ano em algum lugar onde eu possa respirar uma ilha, uma lua algo bem longe daqui Só pra ver se la do alto tudo volta ao normal vou passar quarenta dias me esforçando pra esquecer e se nada então der certo minha cartada final vou montar acampamento no espaço sideral.

Nós deuses

Não me venha, meu amigo com essa conversa mansa de que somos, nós humanos os senhores de nós mesmos te alerto, desde já de que aqui nesta cidade não há nenhuma divindade caminhando pelo ermo minha vida, levo calma como e durmo, fumo e penso e se serve de alento trabalho um pouco que seja agora, conte-me amigo onde enxergas o divino nesses fatos severinos, na rotina que rasteja? Mas se entendes que sou são humanoide especial comecemos hoje mesmo nova religião? Imagine tal rebento profeta dos novos tempos sacrifícios, movimentos em nome do bem carnal Concedo-lhes os desejos no auge da insanidade e vendo-os daqui de cima já me sinto divindade.

Penumbra

Do lado de cá da janela eu vejo a cidade de longe a noite se assenta nas ruas o escuro e o que ele esconde me engloba e eu fico sozinho na calma aqui do meu quarto perdido, mas nem tão distante pensante, mas não assustado.  Os olhos se tornam brilhantes melhoram, a cada segundo avisto, com certa receio a sombra dominar o mundo e tudo, que era então belo assume viés decadente verdades só vistas a noite nos tornam humanos descrentes.

Fantasmas

Os fantasmas do passado, aqueles que hoje me assombram hoje vão sentar a mesa pra provar do meu café Já quero deixar bem claro que vai ser conversa franca não é papo de criança e não fique, se quiser. Minha casa é pequena minha cama, de solteiro e não tenho mais dinheiro pra bancar assombração Ta difícil com o salário e eu me sinto solitário mesmo com tanta entidade dividindo meu colchão Então vou fazer sorteio ver quem sai e ver quem fica só não quero que de briga quando eu desabrigar Os fantasmas sorteados Juntem os trapos, vão embora Cemitério de memorias Não é lugar pra morar