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Mostrando postagens de novembro, 2015

Do que eu guardo

A chuva escorre com pressa Nos vidros turvos da janela Lavando os vestígios do tempo Que o vento só vinha sujar Preparo um café bem amargo Pra resistir a tempestade Ha quem diga que a chuva Invade, para lavar E que em seguida o sol Quando então reaparece Esquenta o agora novo Aquece, o que sobrar Mas logo me torno inquieto "E se também neste processo Acabar lavando as dores Que não era para levar?"

Cúmplices

Fui cúmplice de um crime assassinato a sangue frio não, não encostei no gatilho e nem fiz preparativos também não dei nenhuma ajuda no conflito corporal se é que houve, não sei não participei, afinal Mas fui cúmplice, ainda assim da tragédia anunciada da barbárie, do absurdo da atitude tomada não estranhe minha culpa ou a minha posição meu sorriso ao saber do crime foi minha contribuição.

Pique Esconde

Você se esconde, eu sei não é possível não te encontrar eu te procuro tanto por aí nas ruas aqui do bairro nas festas, debaixo da cama dentro do peito mas você se enconde eu sei não é possível não te achar nem se eu tentasse o gps nem internet nem celular ver o seu rosto mais uma vez é pedir muito é tão injusto? você se esconde mas eu espero que seja tão pensado ensaiado cada passo matemática movimento calculado pra então naquela tarde ah, nessa tarde que eu estiver por aí andando, já te esqueci pensando, eu dê de cara com você na passarela pode chover no dia, eu não me importo nem abra a boca eu sei você se esconde pra me esperar.

Entre quatro paredes vale até contar a verdade

Entre com os pés descalços Tem pouco tempo que limpei Aviso que o taco é gelado Então deslize pro quarto O mais rápido que puder Entre e não repare a bagunça As roupas jogadas no chão Os quadros pintados de sangue Móveis de cabeça pra baixo Entre aqui no meu quarto Sozinha, de olhos vendados Tateando as formas e as sombras Procurando aporte ou destino Entre aqui nesse quarto E deixe pra trás o passado Jogado na sala de estar Entre aqui no meu quarto Apague a luz que ilumina O que trazemos nos olhos O que nos habita de fato E quando chegar la no quarto Vamos dançar e cantar Vamos dormir abraçados Intimizar, intimidados com toda nossa capacidade de sermos outros lá fora e nós mesmos aqui neste quarto.

Sobre más companhias

Hoje eu acordei cansado Minha mãe ao pé da cama Rezando suas rezas baixinho Com medo de me acordar Eu abro meus olhos vermelhos Me assusto então quando a vejo Indago "do que me proteges? Dos outros?" "Não, de você mesmo".